Medical Hospital

Mais um dia de voluntariado. Esta semana estaria de serviço ao hospital para ajudar a limpar os pacientes que estavam em coma, alguns provavelmente já não acordariam mas mesmo assim as familias continuavam ao seu lado a lutar e à espera ansiosamente mas havia um rapaz, esse nunca tinha ninguém, pelo menos que eu visse. Guardava-o sempre para ultimo porque gostava de passar mais tempo a cuidar dele. Na ficha médica dizia que tinha tido um grande acidente que tinha envolvido uma explosão, dai as suas queimaduras, será que ele algum dia ia acordar ou a sua familia, caso ele tivesse, iria mandar desligar as maquinas ?

Respira, respira, respira. Blackout.

Kale off

A explosão naquela bomba tinha arrasado completamente a vida de Kale, por pouco não morreu. A sua sorte foi talvez ser rapidamente retirado dos escombros e levado para o hospital, este mesmo que não tinha condições de o tratar, visto que foi encaminhado para outro privado, refugiado numa vila.
A maca onde fora transportado era de aço, duro, que combatia frequentemente as portas dos blocos e o levava por entre os corredores daquele hospital. Fora operado várias vezes, os médicos tentavam reconstruir-lhe os órgãos, algo que acontecia um dia de cada vez, muito lentamente.
Fora também vitima de uma operação plástica com intenção de lhe "maquilhar" as queimaduras. Ultimamente ocorrem noticias que Kale, está a progredir a nivel emocional e fisico. Talvez um dia acorde.

Por um lado tinha pena do rapaz. Passava os dias ali sozinho, sem que ninguém o fosse visitar, sem que falassem com ele. No fim do meu turno de voluntadiado, voltei ao quarto e sentei-me ao seu lado naquelas cadeiras duras e desconfortáveis de plástico. - Então.. isto é estranho - fiz uma careta e prendi o cabelo - Se calhar não me ouves ou talvez ouves mas os médicos dizem que ajuda falar com os paciences em coma e como não vejo aqui ninguém contigo, decidi eu vir falar contigo - ri-me um pouco embaraçada - Eu sou a Lucy, provavelmente já deves saber quem eu sou, as vezes faço aqui voluntariado e sou eu que tou aqui

Pela primeira vez, alguém foi ao quarto de Kale, e este teve a oportunidade de mostrar algum sinal de vida.
Já passavam das horas dos pacientes, mas havia um caso grave no bloco operatório que parecia requerer todos os médicos e enfermeiros possíveis, por isso não deram conta disso.

Kale On (mais ou menos)

Mexi vagarosamente o dedo, à sua resposta.

- Bem, eu já nem devia estar aqui... - olhei para a sua ficha medica - ...Kale - sorri e levantei-me - Eu volto amanhã nem que seja para te dizer olá, espero que não te esteja a chatear - inclinei-me sobre a maca e beijei-lhe a testa. Nem tinha reparado que era assim tão tarde. Quando cheguei a casa já os meus pais estavam preocupados mas depois de explicar que estava a fazer voluntariado eles ficaram melhor.

Mexi novamente o dedo, mas não pareci ter visto.
Acorda, acorda, acorda, corda. Blackout.

Kale Off

Novamente Kale não resistiu à força superior e continuou de olhos fechados. Algo parecia chamar à atenção a Kale, talvez a rapariga, talvez com mais visitas, seria por ela que ele acordasse.

A semana de voluntariado ia passando e todos os dias ia lá nem que fosse para dizer olá ou falar-lhe um pouco do meu dia embora por vezes temesse que isso o aborrecesse mas mais ninguém o ia ver e eu até gostava de lhe fazer companhia. - Então Kale, quando é que acordas ? - perguntei, despenteando-o um pouco - precisas de ir ao cabeleireiro e tambem precisas de fazer a barba - gozei para ver se obtinha resposta - olha que qualquer dia tens o cabelo maior que o meu e deixa.me dizer.te que o meu é bastante comprido - ri.me

A máquina começou a apitar e a indicar as emoções de Kale demasiado altas fazendo com que ele abrisse os olhos de repente e procurasse um ponto de ar. Completamente ofegante, tentava arranjar maneira de conseguir o ar suficiente para falar, mas não conseguia.

- Rapaz tu não morras - arregalei os olhos quando as máquinas começaram todas a apitar. Levantei-me preocupada e gritei por uma enfermeira mas ninguém se aproximava. Boa Lucy, o que é que aprendeste ? Manter a calma acima de tudo e ver o paciente. Aproximei-me dele e olhei-o, vendo-o de olhos abertos muito ofegante - Kale tem calma - pedi, pousando a mão no seu peito e esperando não lhe afligir dor - Está bem ? As enfermeiras já devem vir ai

Engasgou-se a tentar falar e tossiu algumas vezes para o ar.
Fechou os olhos com força e entretanto as enfermeiras chegaram e afastaram a rapariga, começando a avaliá-lo. - Ele vai acordar - disseram.

- Digam-lhe para ter calma - encostei-me a parede mais afastada para não atrapalhar ninguém - Ele está muito nervoso - respirei fundo e esperei que as enfermeiras o examinassem - Deixem-me ve-lo - pedi baixinho e aproximei.me um pouco mas rapidamente outra enfermeira me afastou enquanto lhe administravam alguns medicamentos

Depois de algum tempo em redor de Kale:
- Ele pode acordar a qualquer instante - avisaram. - Nós já fizemos o nosso trabalho, alguma coisa uma de nós está lá fora - assentiu e foi-se embora, deixando a colega de trabalho à porta.

Quando finalmente se foram embora voltei a aproximar.me dele e sentei.me na mesma cadeira que tinha sentado nos ultimos dias - disseram que estavas quase a acordar - sorri e passei a mao pelo seu braço - mas tu a bocado abriste os olhos, voltas a fazer isso para eu ver ? - perguntei, mordendo o labio - nao me deixaste ver a cor dos teus olhos

Kale On

Acorda, por favor Kale, acorda.
Fiz força contra o meu subconsciente e tentei abrir os olhos. Ao fazê-lo abri também a boca e soltei uma palavra. - Lucy - proferi baixinho lembrando-me de ter ouvido aquele nome.

- Sim Kale, sou a Lucy - sorri e sentei.me a beira da cama, agarrando na sua mao e pousando.a no meu colo - lembras.te de mim ? - perguntei, acariciando a sua mao enquanto olhava para os seus olhos cor de chocolate. nao sabia se podia estar a fazer aquilo mas também ninguém tinha ido la por isso presumia que nao tivesse namorada

Ouvi-a mas não conseguia dizer mais nada.
- Lucy - repeti tentando desta vez esboçar um sorriso mas não dava. Fechei os olhos e a enfermeira que outrara havia estado na porta, entrou pelo quarto dentro e afastou novamente Lucy. - A menina precisa de se ir embora - resmungou num tom inofensivo.

- Sim Kale - vi que ele nao ia dizer mais nada por isso fiquei sentada a acariciar-lhe a mao. das outras vezes que lhe tocara fora apenas para lava-lo, nunca fora num acto carinhoso como agora. - mas ele... - olhei para ele e para a enfermeira - eu volto amanha kale - aproximei-me so para lhe dar outro beijo na testa - aguenta-te - pedi e sai antes que a enfermeira me proibisse de la voltar

Depois de ela sair, queria chamar por ela, mas senti que já a chamara vezes suficientes.
Depois de me administrarem alguns do medicamentos, voltei a fechar os olhos adormecendo e esperando ansiosamente pela chegada de Lucy.

O dia seguinta parecia lento, muito lento. Hoje não era a minha vez de ir para o hospital, precisavam de ajuda na creche por isso tinha de ir para lá mesmo que os meus pensamentos tivessem naquele quarto de hospital, tinha-me comprometido com as pessoas e não voltava atras com a minha palavra. Quando eram cinco da tarde e finalmente chegou a minha hora de saida fui o mais rapido que pude para o hospital. Assim que cheguei ao quarto vi-o a dormir, esperava que tivesse apenas a dormir e não tivesse voltado ao coma de semanas que tinham chegado a meses.

Ouvi pequenos barulhos no quarto, talvez enfermeiras, mas não me dei ao trabalho de os abrir.
Quando me senti ser observado durante muito tempo decidi ceder e vislumbrei Lucy meio torcida, que depois de pestanejar mais vezes já se encontrava perfeita.

- Hey - sorri, voltando a sentar-me a beira da cama quando ele abriu os olhos. - Desculpa só ter vindo agora e só poder ficar um bocado - olhei para o relogio e daqui a um tempo as visitas acabariam - como te sentes ? - perguntei, voltando a pegar na mao dele

Estremeci quando me tocou, mas agarrei a sua mão também.
- B.. em - soltei atrapalhado com a fala. - Nã..o faz - respirei fundo e tentei outra vez. - ...Não faz... mal - fui bem sucedido.

- Não te esforces a falar - sorri e fiquei a acariciar a sua mão que agora agarrava a minha - estou feliz por teres acordado - admiti, sentindo-me a corar ligeiramente - tenho vindo cá todos os dias para te ver e já tive a tratar de ti, espero que não te importes - aproximei-me mais dele e sorri envergonhadamente

Neguei com a cabeça às suas palavras.
- Não, está tudo bem... - encolhi levemente os ombros. - Quando é que saio daqui? - perguntei tossindo um bocado levando-me a engasgar outra vez.